São Paulo – O segmento de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos conviveu recentemente com o pior dos cenários: recessão econômica e alta de tributos. O resultado foi uma inédita queda das vendas, que deverá ser revertida a partir deste ano e ganhar força em 2018.
“Tradicionalmente, o setor cresce três vezes acima do [aumento do] Produto Interno Bruto. Isso aconteceu nos últimos vinte anos e não tem porque ser diferente no ano que vem. Se a economia crescer 2%, teremos uma alta [real] de 6% da indústria”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), João Carlos Basilio.
Segundo ele, esse ano, a expectativa é de que o setor possa crescer algo como 2% em termos reais. Será uma reversão da tendência negativa observada nos últimos dois anos. Em 2015, o faturamento do setor recuou 9,3%, ao passo que em 2014 as perdas de receita totalizaram 6,3%, configurando-se como as primeiras retrações em quase duas décadas de medição da indústria pela Abihpec.
Especialmente a partir de maio de 2015, as vendas foram afetadas pelo aumento da carga tributária, após a entrada em vigor do Decreto 8.393, que obrigou as empresas atacadistas e distribuidoras a efetuar a cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Essa medida proporcionou uma alta potencial de 4,1% nos preços, de acordo com um levantamento da LCA Consultores, elaborado a pedido da Abihpec.
Em meio ao cenário recessivo, o aumento no valor dos produtos contribuiu para a redução da demanda. Segundo Basilio, a medida é inconstitucional e há vários questionamentos na Justiça em relação ao pagamento do tributo. “Esperamos que essa reversão se dê logo. Entramos com uma Adin [Ação Direta de Inconstitucionalidade] e já temos várias sentenças favoráveis em primeira instância”, reforçou.
Mais barato
Mesmo com a melhora do cenário para as vendas, diante da queda da inflação e da perspectiva de aumento do emprego com carteira assinada, os consumidores não vão alterar velhos hábitos dos tempos da crise tão rapidamente. Basilio observa que o efeito “trade down” segue, porém o setor registra uma certa “resiliência”, o que deverá ajudar quando a recuperação se consolidar. “As pessoas não deixam de tomar banho, lavar os cabelos ou escovar os dentes mesmo na crise”, afirma, ressaltando que os homens usam diariamente entre oito e 12 produtos do setor, enquanto para as mulheres esses itens passam de 16.
“O efeito ‘trade down’ segue, mas em algum momento isso vai se alterar. As pessoas não vão ficar consumindo produtos baratos a vida inteira”, diz o presidente e fundador da Mahogany, Jaime Drummond. Segundo ele, as linhas mais “premium” de cuidados pessoais foram as que mais sofreram. “Tivemos que compensar essa perda com outras linhas”, ressalta. O faturamento da fabricante de itens como fragrâncias, desodorantes, sabonetes líquidos e hidratantes deverá encerrar este ano em R$ 90 milhões. A expansão, assim, deverá beirar os 14%.
Além da indústria, a Mahogany atua com 205 lojas, focadas no interior. “Essas regiões são mais carentes [de produtos] e estamos tendo sucesso com essa estratégia”, diz.
Venda Direta
Até mesmo um dos setores mais tradicionais como alternativa ao desemprego e complementação de renda, a venda direta, sofreu com a crise. “Com a rede mais próxima, de vizinhos e família, desempregada, até essa ajuda ficou mais complicada”, comenta o sócio-fundador da DirectBiz Consultants, Marcelo Pinheiro.
Dessa forma, houve uma estagnação do total de consultoras. Por outro lado, ele projeta que, com a recuperação econômica, este seja um dos segmentos que observe uma recuperação mais rápida.